quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Coisas pequenas que se pagam em grande preço

Cada vez que a minha filha, já adolescente, me pede para sair com os amigos eu não só a deixo, como ainda incentivo que ela saia e se divirta. Ela está na idade, e não é por ter amigos e se encontrar com eles que me despreza ou que me confronta. Na base disto está, claro, a confiança e o diálogo aberto. As cartas estão na mesa e ela já sabe com o que conta: sais, mas dizes-me para onde e com quem. E às tantas horas, estás em casa. É o que peço. Não é muito. Ela sabe das consequências se não cumprir.
Acho isto tão importante! Lembro-me de ter colegas e amigos cujos pais eram demasiado protectores e que não os deixavam sair. Eu própria sofri com isso até o meu irmão, infelizmente, adoecer, e eu ter a atenção dos meus pais virada exclusivamente para ele. Essa "desatenção" permitiu-me viver - ainda que fora da idade - essa maravilhosa vida para além da escola-e-casa.
Muitas vezes pensamos que ao proteger os nossos filhos estamos a fazer-lhes um bem enorme. Mas isso não é verdade: a super protecção tende a ser mais prejudicial que benéfica. E isto porque chegamos a uma idade em que só temos dois caminhos: ou nos rebelamos e fazemos o que queremos às escondidas, ou, pior, anulamo-nos como pessoas para "não haver problemas" e vivermos uma paz podre.
Eu, estúpida me confesso, optei pelo segundo caminho. E desde muito pequena - com o meu primeiro contacto social, na escola primária. Percebi que se não desse problemas teria garantido o amor dos meus pais. Claro que há uma distância entre o que percebemos e a realidade.
E isso teve consequências: sem me aperceber, "matei" a Ana. E aos dezassete anos, quando me caiu a ficha, as coisas ficaram muito negras. Não tinha vivido o que era suposto viver na adolescência, essa coisa do sair e ter amigos. Tudo para não desagradar aos meus pais protectores.
Já lá vão mais de vinte anos, e as marcas ainda cá estão. Lentamente, vou saindo da concha em que me fechei. Mas estou a anos-luz de quem se move socialmente como um peixe na água.
Voltamos ao princípio deste texto: cada vez que a minha filha, já adolescente, me pede para sair com amigos eu não só a deixo, como ainda incentivo que ela saia e se divirta. O preço a pagar por não se viver o que se deve viver na altura certa é alto demais! Os filhos não podem pagar pelas inseguranças dos pais.