terça-feira, 15 de novembro de 2011

A culpa é só do Governo?? Não me parece...

Quando a República foi implantada, toda a gente a justificava porque a Monarquia era a causa de todos os males do país.
Quando se deu o golpe de 1928, toda a gente o justificava porque a Primeira República era a causa de todos os males do país.
Quando se deu o 25 de Abril, toda a gente o justificava porque a ditadura de Salazar era a causa de todos os males do país.
Estamos em suposta democracia há 37 anos. E o povo continua miserável, acrítico e analfabeto. E determinadas elites continuam a governar-se à grande.
Não me venham com a história de que a culpa é deste ou daquele governo. A culpa é de todos. Porque os governos têm mudado, os regimes têm mudado, e Portugal continua na cauda da Europa.
E porquê? Porque, no nosso país, prevalece a chico-espertice sobre a competência e sobre a seriedade; porque prevalece a inveja, a maledicência, e o egoísmo, sobre a generosidade, a solidariedade, a boa formação humana, cívica e moral; porque prevalece a ideia de que quem é honesto e cumpridor é estúpido. Porque é preferível dar aos portugueses lixo que venda, que educar mentalidades para sermos, ao menos, credíveis. Porque é muito melhor impingir direitos em vez de educar para a responsabilização. Porque achamos ser muito civilizado ter leis que permitem mulheres de se desenvencilhar de um filho até às 10 semanas, embora continuemos a promover o facilitismo e a irresponsabilização na educação das crianças.
Saramago disse, uma vez, que "cada povo tem o Governo que merece". E é verdade. Até porque o Governo sai do povo.
É a nossa mentalidade que nos prejudica. Mas achamos sempre que a culpa é dos outros. Não, a culpa é de todos. E há que ver isto com olhos de ver.
E sobre isto, deixo-vos um texto de Eduardo Prado Coelho. Reflictamos sobre estas palavras:

"Precisa-se de matéria prima para construir um País
Eduardo Prado Coelho – in Público
A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como
Cavaco, Durão e Guterres.

Agora dzemos que Sócrates não serve.

o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada.
Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que
foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.
O problema está em nós. Nós como povo.
Nós como matéria prima de um país.
Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre
valorizada, tanto ou mais do que o euro.
Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais
apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos
demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão
ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos
passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL,
DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras
particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa,
como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo

o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ….e para

eles mesmos.
Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque
conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda

a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.

Pertenço a um país:
– Onde a falta de pontualidade é um hábito;
– Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.
– Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo
nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos.
– Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.
– Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem

que é ‘muito chato ter que ler’) e não há consciência nem memória

política, histórica nem económica.
– Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar
projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe
média e beneficiar alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas
podem ser ‘compradas’, sem se fazer qualquer exame.
– Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma
criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto
a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar.
– Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.
– Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a
criticar os nossos governantes.
– Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates,
melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um
guarda de trânsito para não ser multado.
– Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como
português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que
confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.

Não. Não. Não. Já basta.

Como ‘matéria prima’ de um país, temos muitas coisas boas, mas falta
muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.

Esses defeitos, essa ‘CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA’ congénita, essa
desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se

converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade

humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é
real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós,
ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte…

Fico triste.

Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o
suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima
defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.

E não poderá fazer nada…

Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas
enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar
primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.

Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve
Sócrates e nem servirá o que vier.

Qual é a alternativa?

Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a
força e por meio do terror?

Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa ‘outra coisa’ não comece a
surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os
lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente
estancados….igualmente abusados!

É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone
começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento
como Nação, então tudo muda…

Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam
um Messias.

Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada
poderá fazer.

Está muito claro… Somos nós que temos que mudar.

Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos:

Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e,
francamente, tolerantes com o fracasso.

É a indústria da desculpa e da estupidez.

Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o
responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir)
que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de
desentendido.

Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI
QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO.
AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO."

Tirei daqui.

5 comentários:

  1. Olá!

    É a primeira vez que visito o seu blog atraído pelo título nos favoritos do quipropuó.

    Ana, esses considerandos já eu os analiso há muito tempo e são inteiramente justos.

    No entanto, sendo justos para grande parte dos portugueses, existe uma larga percentagem de portugueses, que eu designo por maioria silenciosa (classe média, sobretudo) que não se revendo nesse espírito, também não aparece nos ruídos das ruas (manifestações) televisões, etc.

    Passarei por cá mais vezes.

    Cumprimentos.

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  2. Olá, Carlos!
    Muito bem vindo!
    Sim, essa maioria silenciosa que trabalha honestamente, que cumpre os seus deveres. Silenciosa porque, lá está, prevalece o que falei no post. Infelizmente.

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  3. Também já fiz uma análise nesse sentido, Ana. Se temos os políticos que temos, é por sermos o povo que somos. O filme do Ettore Scola "Feios, Porcos e Maus" adapta-se na perfeição à Tugalândia.
    Obrigado pela visita ao CR . Gostei de conhecer o seu blog , vou voltar.

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  4. Concordo no geral, mas não em alguns pormenores. Contigo e com Eduardo Prado Coelho!
    É preciso mudar mentalidades sim, esse chico-espertismo é irritante todos os dias! Mas isso começa em nossa casa e passa para a escola, em termos de educação das gerações mais novas!

    Apesar disso, os políticos não são isentos de culpa: Durão Barroso é um exemplo típico desse chico-espertismo - eleito pelo povo, baldou-se para a Europa assim que lhe ofereceram um cargo mais importante e bem remunerado! DOIS ANOS E MEIO DEPOIS DE SER ELEITO! E a malta ainda entra naquela de "Ah e tal foi cuidar da sua vidinha?" Espera lá, não foi ele que se candidatou a PM?! Onde é que estava a sua responsabilidade?!

    A eletricidade está cara mesmo, numa empresa que dá milhões, com empregados muito bem remunerados! E os governantes, estes e os anteriores, permitem que ponham e disponham! Acrescentando um IVA "europeu" de luxo, para uma necessidade básica?!?

    Quando olho para o espelho sei que cometi alguns erros! Mas não são infrações ao código da estrada (nem preciso de "untar" as mãos à polícia por isso), quando muito atravesso em locais onde não existe passadeira, quando estou com pressa! E acho-me estúpida por isso, porque estou a pôr em perigo a minha própria vida...

    Last but not least, embora exista muita gente calaceira e a ter "cola nas mãos" para levar material escolar para casa lá do seu emprego, não suponho que seja a maioria dos portugueses! Generalizar a todos é sempre injusto!

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  5. Teté, não se generaliza. Simplesmente, e como disse já aqui, em Portugal prevalece o que não devia. Por isso, existe uma maioria silenciosa que trabalha, não se mete em confusões e vive honestamente. Só que a honestidade, cá, não é valorizada, não é notícia, não dá dinheiro. Aliás, há uma ideia de que quem é honesto é um "pombinho", um ingénuo. É tão triste...

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